Um recente estudo revelou que bactérias intestinais humanas podem transformar ácidos biliares derivados do colesterol, presentes na bile, em metabólitos capazes de bloquear a sinalização androgênica, fortalecendo a resposta imunológica anticâncer. Publicado na Cell, o trabalho identificou mais de cinquenta novos ácidos biliares modificados pela microbiota, alguns com estrutura semelhante a hormônios sexuais como a testosterona. Testes mostraram que pelo menos quatro desses compostos inibem o receptor androgênico, presente não só em tecidos de desenvolvimento sexual, mas também em células imunes como os linfócitos T CD8+. Quando utilizados em camundongos com câncer de bexiga, esses ácidos biliares aumentaram a eficácia dos linfócitos T no combate tumoral, promovendo forte resposta antitumoral.
A descoberta sugere que a microbiota intestinal desempenha um papel mais direto e ativo na regulação imunológica do que se imaginava. Os pesquisadores agora avaliam a viabilidade de incorporar esses metabólitos modificados ou as bactérias produtoras em estratégias terapêuticas contra o câncer, seja por meio de transplante microbiano dirigido ou administração direta dos compostos. Ainda há desafios, como entender como a dieta influencia a produção desses ácidos biliares e quais seriam seus efeitos em indivíduos saudáveis. O grupo também estuda a engenharia genética de bactérias intestinais para controlar a liberação desses compostos de forma precisa, visando explorar seu impacto fisiológico mais amplo. Este avanço ressalta o potencial do microbioma como aliado na imunoterapia oncológica.
Link para o estudo: http://dx.doi.org/10.1016/j.cell.2025.02.029
Conteúdo elaborado por: Dr. Caio Robledo Quaio, MD, MBA, PhD
Médico Geneticista – CRM-SP 129.169 / RQE nº 39130
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