Um novo estudo publicado na revista Science revela como uma única modificação genética no patógeno causador da peste bubônica (ou peste negra), a bactéria Yersinia pestis, foi determinante para sua sobrevivência ao longo de séculos. Pesquisadores demonstraram que a quantidade de cópias do gene pla, que é fundamental para a bactéria escapar do sistema imune e se disseminar pelo corpo, influenciava diretamente a letalidade e o tempo de infecção. Ao longo das pandemias, cepas da bactéria com menor número de cópias do gene tornaram-se menos letais, permitindo que os hospedeiros vivessem por mais tempo e, assim, espalhassem a infecção com mais eficiência.
O estudo analisou centenas de amostras antigas e modernas da bactéria e mostrou que essa adaptação evolutiva ocorreu de forma semelhante nas pandemias da Peste de Justiniano e da Peste Negra. Cepas menos letais prolongaram a sobrevivência dos ratos, os principais vetores da doença, mantendo o ciclo epidêmico. Contudo, essas variantes eventualmente desapareceram, provavelmente devido a mudanças ecológicas e populacionais. Atualmente, a maioria das cepas que circulam em regiões como África e América do Sul ainda possui alta virulência, sendo similares às responsáveis por grandes ondas de mortalidade no passado. A pesquisa oferece novos insights sobre como pandemias evoluem e abre caminhos para compreender melhor os mecanismos que favorecem sua persistência ou extinção.
Link para o estudo: http://dx.doi.org/10.1126/science.adt3880
Conteúdo elaborado por: Dr. Caio Robledo Quaio, MD, MBA, PhD
Médico Geneticista – CRM-SP 129.169 / RQE nº 39130
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