Da maldição das tumbas ao tratamento do câncer: fungo letal revela composto promissor contra leucemia

O Aspergillus flavus, fungo temido por séculos e associado à morte misteriosa de exploradores de tumbas egípcias e europeias, acaba de se revelar uma fonte inesperada de esperança na luta contra o câncer. Após episódios célebres como as mortes que se seguiram à abertura da tumba de Tutancâmon nos anos 1920 e, décadas depois, a morte de dez cientistas logo após entrarem no túmulo do rei Casimiro IV, na Polônia, suspeitou-se que esporos tóxicos do A. flavus, latentes por séculos, tivessem papel nesses eventos. Agora, cientistas redimiram o “fungo da maldição”, descobrindo em seu interior uma nova classe de moléculas, batizadas de asperigimicinas, com potente efeito contra células de leucemia. Publicado na Nature Chemical Biology, o estudo revela que essas moléculas, pertencentes à rara classe de RiPPs fúngicos, têm estrutura química complexa e bioatividade altamente seletiva, capazes de interromper a divisão celular das células leucêmicas sem afetar outras células saudáveis.

Ao combinar análise genética e metabólica, os pesquisadores isolaram quatro asperigimicinas inéditas, duas das quais apresentaram efeito direto contra a leucemia, e uma terceira, modificada com um lipídio semelhante ao encontrado na geleia real das abelhas, teve desempenho comparável a fármacos consagrados como citarabina e daunorrubicina. A entrada eficiente das moléculas nas células se mostrou dependente do gene SLC46A3, que pode servir de alvo para outras terapias baseadas em peptídeos cíclicos. Com ação específica e efeitos colaterais mínimos, as asperigimicinas mostram o potencial de transformar um fungo outrora temido em aliado terapêutico.

Esse é um exemplo de que a natureza guarda tesouros escondidos até nas histórias mais sombrias e cabe à ciência transformar maldições em cura. A descoberta reforça a ideia de que túmulos antigos não guardam apenas segredos arqueológicos, mas também pistas para o futuro da medicina.

Link para o estudo: http://dx.doi.org/10.1038/s41589-025-01946-9

Conteúdo elaborado por: Dr. Caio Robledo Quaio, MD, MBA, PhD
Médico Geneticista – CRM-SP 129.169 / RQE nº 39130

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Dr. Caio
Robledo Quaio

CRM-SP: 129.169
RQE: 39130

Médico (90a turma) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com residência em Genética Médica pelo Hospital das Clínicas da USP e Doutorado em Ciências pela USP. Possui Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica, Acreditação Internacional pela Educational Commission for Foreign Medical Graduates, dos EUA, Observrship em Doenças Metabólicas pelo Boston Children’s Hospital e Harvard Medical School e foi Visiting Academic da University of Otago, da Nova Zelândia. É autor e coautor de dezenas de estudos científicos em genética, genômica, doenças raras, câncer hereditário, entre outros temas da genética. Atualmente, é Médico Geneticista do Laboratório Clínico do HIAE e do Projeto Genomas Raros, ambos vinculados ao Hospital Israelita Albert Einstein, e Pesquisador Pós-Doutorando da Faculdade de Medicina da USP.

Dra. Helena
Strelow Thurow

CRBIO-01: 100852

Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Católica de Pelotas, mestrado em Biologia Celular e Molecular pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Doutorado em Biotecnologia pela Universidade Federal de Pelotas (2011). Realizou Pós Doutorado em Epidemiologia e Pós-Doutorado PNPD em Biotecnologia, ambos na Universidade Federal de Pelotas. Posteriormente, realizou Pós-Doutorado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Foi Analista de Laboratório no setor de NGS do Hospital Israelita Albert Einstein e atualmente é Analista de Pesquisa na Beneficência Portuguesa de São Paulo. Tem ampla experiência na área de Biologia Molecular e Biotecnologia.