Os primeiros agricultores abriram caminho para epidemias

Evidências genômicas sugerem que a sedentarização e a domesticação abriram caminho para zoonoses em humanos.

Zoonoses em populações pré-históricas. Um novo estudo na Nature recuperou DNA de centenas de agentes infecciosos em restos de mais de 1.300 indivíduos da Eurásia, alguns com até 37 mil anos, e indica que a transição para vilas, fazendas e a domesticação de animais há ~6.500 anos marcou uma nova era de doenças.

O que o estudo encontrou

Muito antes da gripe suína, da “vaca louca” ou da COVID-19, humanos já conviviam com doenças que saltavam dos animais para as pessoas. O trabalho identificou material genético de patógenos em esqueletos pré-históricos e mostrou que, com a domesticação e a vida sedentária, aumentou a exposição a microrganismos de animais domésticos e do ambiente das vilas.

Esse período também coincide com migrações de povos pastores da estepe pôntica (atuais Ucrânia e Rússia), que espalharam culturas e, potencialmente, patógenos ao longo do continente.

O registro mais antigo da Yersinia pestis

Entre os achados, está o registro genético mais antigo já identificado da Yersinia pestis — a bactéria da peste — em um indivíduo de aproximadamente 5.500 anos. Milênios depois, variantes dessa mesma espécie causariam a Peste Negra, que dizimou uma fração substancial da população europeia medieval.

Por que isso importa hoje

  • Vigilância de zoonoses: entender quando e como patógenos emergiram ajuda a antecipar riscos no contato humano‑animal.
  • Vacinas e variantes: reconstruir a história evolutiva de agentes infecciosos indica se imunizantes atuais cobrem linhagens antigas e quais lacunas exigem novas vacinas.
  • Planejamento em saúde: arqueogenômica oferece pistas sobre dinâmica de surtos, rotas de disseminação e vulnerabilidades populacionais.

Perguntas frequentes

O que são zoonoses?
São doenças causadas por patógenos que infectam animais e podem ser transmitidos aos humanos, como vírus, bactérias e parasitas.
Por que a domesticação e a vida sedentária favoreceram epidemias?
O convívio próximo com animais, maior densidade populacional e saneamento precário em vilas antigas aumentaram a exposição e a transmissão de patógenos.
Como estudos de DNA antigo ajudam hoje?
Permitem rastrear a evolução de patógenos, avaliar cobertura potencial de vacinas e orientar vigilância de novas ameaças.

Referências

  1. Nature — Registros genéticos antigos de patógenos em populações pré-históricas

Conteúdo elaborado por: Dr. Caio Robledo Quaio, MD, MBA, PhD — Médico Geneticista (CRM-SP 129.169 / RQE nº 39130).

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Dr. Caio
Robledo Quaio

CRM-SP: 129.169
RQE: 39130

Médico (90a turma) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com residência em Genética Médica pelo Hospital das Clínicas da USP e Doutorado em Ciências pela USP. Possui Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica, Acreditação Internacional pela Educational Commission for Foreign Medical Graduates, dos EUA, Observrship em Doenças Metabólicas pelo Boston Children’s Hospital e Harvard Medical School e foi Visiting Academic da University of Otago, da Nova Zelândia. É autor e coautor de dezenas de estudos científicos em genética, genômica, doenças raras, câncer hereditário, entre outros temas da genética. Atualmente, é Médico Geneticista do Laboratório Clínico do HIAE e do Projeto Genomas Raros, ambos vinculados ao Hospital Israelita Albert Einstein, e Pesquisador Pós-Doutorando da Faculdade de Medicina da USP.

Dra. Helena
Strelow Thurow

CRBIO-01: 100852

Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Católica de Pelotas, mestrado em Biologia Celular e Molecular pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Doutorado em Biotecnologia pela Universidade Federal de Pelotas (2011). Realizou Pós Doutorado em Epidemiologia e Pós-Doutorado PNPD em Biotecnologia, ambos na Universidade Federal de Pelotas. Posteriormente, realizou Pós-Doutorado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Foi Analista de Laboratório no setor de NGS do Hospital Israelita Albert Einstein e atualmente é Analista de Pesquisa na Beneficência Portuguesa de São Paulo. Tem ampla experiência na área de Biologia Molecular e Biotecnologia.