Memória em risco: problemas cognitivos disparam entre jovens nos EUA

Nos últimos dez anos, os relatos de problemas de memória, concentração e tomada de decisão aumentaram de forma marcante entre adultos com menos de 40 anos nos Estados Unidos. Um estudo epidemiológico publicado na revista Neurology mostrou que a proporção de pessoas que referem “séria dificuldade cognitiva” passou de 5,3% para 7,4% entre 2013 e 2023, com o salto mais acentuado justamente entre os mais jovens, cuja taxa quase dobrou: de 5,1% para 9,7%. :contentReference[oaicite:0]{index=0}

Esse aumento não pode ser atribuído simplesmente ao envelhecimento populacional, já que o grupo com 70 anos ou mais foi o único que apresentou uma discreta queda nos relatos de dificuldades cognitivas. O achado acende um alerta para possíveis implicações de longo prazo em saúde pública, produtividade e organização dos sistemas de saúde, à medida que uma geração jovem já começa a sinalizar queixas consistentes em memória e funções cognitivas. :contentReference[oaicite:1]{index=1}

O que o estudo mostrou sobre a memória dos jovens

Os pesquisadores analisaram mais de 4,5 milhões de respostas de adultos norte-americanos, coletadas anualmente entre 2013 e 2023 em inquéritos populacionais. A pergunta-chave era direta: se, por algum problema físico, mental ou emocional, a pessoa tinha “muita dificuldade para concentrar, lembrar ou tomar decisões”. Quem respondia “sim” era classificado com “deficiência cognitiva” autorrelatada. Para focar em causas não psiquiátricas, foram excluídos os participantes com depressão, assim como os dados de 2020. :contentReference[oaicite:2]{index=2}

No total, a prevalência de dificuldade cognitiva subiu de 5,3% para 7,4% em dez anos, mas o destaque ficou para a faixa de 18 a 39 anos, responsável pelo maior aumento relativo. Já entre os adultos com 70 anos ou mais, houve leve queda, de 7,3% para 6,6%, invertendo a expectativa usual de que os idosos concentrem a maior parte dos problemas de cognição. :contentReference[oaicite:3]{index=3}

É importante lembrar que estamos falando de um relato subjetivo, e não de um diagnóstico formal de demência ou comprometimento cognitivo leve. Ainda assim, o aumento consistente desses relatos, especialmente em adultos jovens, é interpretado pelos autores como um sinal relevante de alerta em nível populacional. :contentReference[oaicite:4]{index=4}

Desigualdade social e risco cognitivo

O risco cognitivo está longe de ser distribuído de forma homogênea. Pessoas com menor renda e escolaridade apresentaram índices muito mais elevados de dificuldades cognitivas. Entre aqueles com renda anual inferior a US$ 35 mil, a prevalência chegou a 12,6%, enquanto entre os que ganham mais de US$ 75 mil ficou em torno de 3,9%. De forma semelhante, adultos sem diploma de ensino médio tiveram taxas bem mais altas do que aqueles com graduação universitária. :contentReference[oaicite:5]{index=5}

Também foram observadas disparidades raciais importantes: povos nativos norte-americanos (American Indian e Alaska Native) lideraram as estatísticas, seguidos por outros grupos racialmente minorizados, sugerindo a influência de fatores estruturais e socioeconômicos — como desigualdade, exposição crônica ao estresse, acesso limitado a cuidados de saúde e condições de trabalho mais precárias — na saúde do cérebro ao longo da vida. :contentReference[oaicite:6]{index=6}

O que isso pode significar para a saúde pública

Apesar de não indicar diretamente um “tsunami de demência” no curto prazo, a tendência preocupa: uma geração jovem que já se percebe com memória e atenção em piora pode, no futuro, demandar mais suporte em saúde mental, neurologia e reabilitação cognitiva. Os autores defendem que o aumento dos relatos de dificuldade cognitiva entre jovens adultos seja encarado como um sinal de que algo mudou no ambiente, no estilo de vida ou nas condições sociais dessa geração, e que isso merece investigação detalhada. :contentReference[oaicite:7]{index=7}

Do ponto de vista clínico, esses dados reforçam a importância de escutar ativamente queixas de “memória ruim” em pessoas jovens, investigando fatores modificáveis como sono, estresse, uso de substâncias, condições psiquiátricas, doenças sistêmicas e vulnerabilidades sociais. Em saúde pública, o recado é claro: políticas que reduzam desigualdades, ampliem o acesso a cuidados de saúde e promovam hábitos de vida saudáveis podem ter impacto também na preservação da cognição ao longo da vida.

Assista em vídeo: memória em risco entre jovens

Referência científica

Wong KH, et al. Rising Cognitive Disability as a Public Health Concern in the United States. Neurology. Publicado online 24 de setembro de 2025.
DOI: 10.1212/WNL.0000000000214226.

Genômica, cérebro e decisões em medicina de precisão

A preservação da cognição ao longo da vida passa por múltiplos fatores: genéticos, ambientais e sociais. Para médicos e profissionais da saúde, entender como a genômica se integra ao cuidado em neurologia, psiquiatria, oncologia e medicina interna é cada vez mais essencial.

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Conteúdo elaborado por:

Dr. Caio Robledo Quaio, MD, MBA, PhD
Médico Geneticista – CRM-SP 129.169 / RQE nº 39130

Dr. Caio
Robledo Quaio

CRM-SP: 129.169
RQE: 39130

Médico (90a turma) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), com residência em Genética Médica pelo Hospital das Clínicas da USP e Doutorado em Ciências pela USP. Possui Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica, Acreditação Internacional pela Educational Commission for Foreign Medical Graduates, dos EUA, Observrship em Doenças Metabólicas pelo Boston Children’s Hospital e Harvard Medical School e foi Visiting Academic da University of Otago, da Nova Zelândia. É autor e coautor de dezenas de estudos científicos em genética, genômica, doenças raras, câncer hereditário, entre outros temas da genética. Atualmente, é Médico Geneticista do Laboratório Clínico do HIAE e do Projeto Genomas Raros, ambos vinculados ao Hospital Israelita Albert Einstein, e Pesquisador Pós-Doutorando da Faculdade de Medicina da USP.

Dra. Helena
Strelow Thurow

CRBIO-01: 100852

Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Católica de Pelotas, mestrado em Biologia Celular e Molecular pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Doutorado em Biotecnologia pela Universidade Federal de Pelotas (2011). Realizou Pós Doutorado em Epidemiologia e Pós-Doutorado PNPD em Biotecnologia, ambos na Universidade Federal de Pelotas. Posteriormente, realizou Pós-Doutorado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Foi Analista de Laboratório no setor de NGS do Hospital Israelita Albert Einstein e atualmente é Analista de Pesquisa na Beneficência Portuguesa de São Paulo. Tem ampla experiência na área de Biologia Molecular e Biotecnologia.